Tecnologia, Conectividade e Arte

maio 08, 2019


Há um tempo a humanidade tem buscado e vivido a conectividade: uma forma interessante de ultrapassar barreiras e manter todos ligados, o tempo todo e em qualquer lugar. Longe de ser uma ideia ruim, seu fascínio – ou dos objetos que permitem que tal coisa ocorra – muitas vezes pode ser mais importante do que seu real fim: construir um vínculo com alguém ou descobrir uma visão mais ampla do mundo e a real significância de nós, seres humanos, nele. Assim, seguindo essa lógica, cria-se um efeito contrário ao esperado: ao invés das pessoas estarem mais próximas, estão fisicamente mais distantes, conectadas umas às outras por suas máquinas, mas desconectadas de suas relações mais íntimas. Assim o mundo acaba se tornando pequeno demais para ser alcançado, mas deveras grande para ser assimilado ou sentido.

Nesse ínterim, a simplicidade do trabalho artístico – no agradável carinho no apego ao produzir – nos leva a repensar essa situação, a encontrar, na importância das pequenas coisas, aquilo que nos torna parte do infinito universo: nos relembrar de nossa conectividade, reatar os que estão à nossa volta, relembrando das comunicações humanas físicas, presentes, imediatas.

Há um fascinante e importante trâmite em fazer arte: a capacidade de se viver (ou de viver e ver) além de nossos próprios olhos, fora das zonas seguras que estabelecemos, e estar junto de outros, atravessando experiências que nos edificam – indo além das telas de “conectividade” e encontrando aquilo que está diante de nossos olhos e ao contato de nossas mãos. A arte, afinal, é essa magnífica representação do real através do acurado olhar do artista.

Depois que eu me dediquei mesmo ao que eu amo, eu entendi que arte não tem nada de egoísmo, arte é compartilhamento, é felicidade espalhada. Todo dia eu recebo não sei quantas mensagens de pessoas dizendo que amam o que eu faço, que se sentem inspiradas. Isso é muito mágico. Essa é a minha maior motivação. E de qualquer forma, a vida é curta, e temos que fazer o que gostamos mesmo”. – Natália Matos, quadrinista e artista plástica.

Se é assim tão curta como diz Natália, então é preciso construir o tempo de compartilhar nossos sonhos uns com os outros lado a lado, além da conectividade do progresso, mas na eterna conectividade do abraço gerado pelas linhas, formas, cores e animações da arte.

Texto de Luís Carlos Sousa

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

A Arte como Produto Coletivo

maio 01, 2019


Quando pensamos na arte enquanto profissionais desta e nos dedicamos tal qual, o pagamento – o valor do suor e do estudo e do tempo gasto para isso – se torna uma necessidade natural. No entanto, muitas vezes a procura ou expectativa desse pagamento nos distancia do nosso objetivo em fazer arte.

É comum ver o artista como um ser solitário, preso num instante de inspiração, numa busca enorme pela obra: pelo produto – para que esse possa ser visto, reconhecido, respeitado e validado, por vezes, é medido por seu valor financeiro.

Mas arte é mais que isso. Arte pode ser algo completamente inestimável, porque arte não é (só) o resultado, mas a experiência de fazê-la. Mais que isso, é importante lembrar que quando a obra artística atinge outro ela deixa de ser uma experiência só do artista pra ser algo assimilado e reinterpretado pelo público, tornando-se, assim, algo coletivo.

Ora, e não pode ser ela uma obra coletiva desde sua concepção, passando por sua feitura até sua apreciação? Não poderia ser a arte, na verdade, não o produto de algo, mas a vivência de muitos, juntos por um objetivo em comum, trocando conhecimentos, culturas, pensamentos e ideias para criar algo que é um amálgama de tudo isso e será apreciado por outros, mas que, principalmente, os uniu ali?

Nesses tempos em que vozes podem ser silenciadas, pessoas invisibilizadas, guilhotinas afiadas, acreditamos que poderia a arte ser mais que um produto a ser apreciado na sala como identificação de um status econômico, mas a aproximação de várias vozes, mentes e sentimentos vivendo a experiência de se conectar e compartilhar suas vidas umas com as outras e com o mundo. A arte pode ser mais que apreciação, ela pode ser reconhecimento e familiariadade, comunicação, humildade, compaixão e fraternidade.

O produto da arte é perecível. Ele pode ser destruído pelo tempo, consumido pelo fogo, levado pelo vento, inundado pelas chuvas – mas a experiência de sua concepção é eterna, é profunda, é universal e humana, porque a arte serve aos sentimentos e ao reconhecimento de nós mesmos e dos outros.

Assim, repetindo as palavras de Neil Gaiman e que nos serve de mote em muitas situações: (Hoje, mais do que nunca) Façamos boa arte (juntos).

– Texto de Luís Carlos Sousa. Tema proposto por Blenda Furtado. Inspirado no vídeo de Nora Atkinson

Publicado por Daniel Brandão

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História, Arte e Resistência

abril 24, 2019


Quando a Segunda Guerra Mundial estourou, Will Eisner já era um profissional de quadrinhos. Ele se alistou no exército, adaptando manuais militares para montagem e limpeza de armas, primeiros socorros e práticas de sobrevivência para oficiais de campo. Nesse trabalho, ele unia sua técnica de quadrinhos à linguagem instrutiva dos manuais, tornando-os mais fáceis de compreender e fazendo a diferença aos soldados à frente de batalha. Há um emocionante caso de um combatente que perdera um membro em guerra e, anos após o fim do conflito, este foi a uma convenção agradecer ao cartunista por seus manuais terem salvo sua vida. Importante lembrar que, apesar de americano, Eisner era judeu e fazer alguma diferença durante a guerra lhe motivava.

Quando os quadrinhos underground estavam em sua época mais efervescente, entre tantas vozes de outsiders falando sobre política e sociedade, uma artista em especial se destacava: Trina Robbins. Quadrinista, historiadora, jornalista, editora independente, feminista e ativista social, sendo responsável pelo considerado primeiro quadrinho com uma equipe inteiramente feminina: It Ain’t Me Babe Comix (e não o único na carreira da artista). Conhecida como a primeira mulher a desenhar a Mulher Maravilha, seu trabalho envolvia dar voz e espaço às mulheres artistas, falando sobre sexualidade, vivências, diferenças trabalhistas, aborto entre outros assuntos, muitas vezes sendo incisiva e direta com relação a assuntos vistos como “naturais” dentro de seu meio de atuação, como misoginia e machismo. Uma passagem em especial da vida de Robbins diz muito sobre seu lugar e voz como artista: quando o movimento dos Pantera Negras foi criminalizado e Angela Davis, uma das mais resistentes vozes do ativismo pelos direitos dos afro-americanos e do feminismo, foi perseguida, Trina confeccionou um pôster com a caricatura de Davis e a frase “Sister, You Are Welcome in This House” (irmã, você é bem-vinda nesta casa – em tradução livre), o qual foi afixado na casa de muitas mulheres que estavam prontas para dar refúgio à ativista.

Jackie Ormes é considerada a primeira cartunista afro-americana. Ela viveu de 1911 a 1985 e teve duas tiras de extremo sucesso: Torchy Brown e Patty-Jo ‘n’ Ginger. Ela viveu a efervescência do movimento de resistência afro-americano e suas tiras possuíam uma forte crítica social, de gênero e raça, mas recheadas com um humor envolvente e inteligente. Uma de suas grandes vitórias foi conseguir com que sua personagem Patty-Jo se tornasse uma boneca para crianças, obtendo enorme sucesso no Natal em que foi lançada, mas sendo descontinuada no ano seguinte. Hoje, a boneca é um valioso item de colecionador.

A arte é uma poderosa voz de resistência. Através da arte, faz-se história e inspira-se as novas gerações. Quando os monarcas de tempos sombrios ascendem, os artistas podem ser a voz do povo e levar gritos emudecidos a lugares que onde eles podem não somente ser ouvidos, mas replicados.

Façamos boa arte.

Publicado por Daniel Brandão

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Mudança, Movimento e Arte

março 27, 2019


Uma das maiores certezas do ser humano é a mudança. Indo muito além dos aspectos físicos, passamos por mudanças por toda nossa vida: endereço, trabalho, amigos e mesmo familiares. Pessoas e situações vêm e vão, aproximando-se e distanciando-se de nossas rotinas, influenciando nosso pensar, agir e perceber. A própria evolução humana, em seu caráter biológico e social, é baseada em adaptar-se às mudanças ocorridas em nossa espécie e em nosso planeta – este, por sua vez, uma enorme “nave” em constante adaptação no oceano do universo.

No entanto, quando passam nossos dias e nos encontramos em situações confortáveis, agradáveis e seguras, a mudança nos surge como algo inesperado: um risco incerto que ameaça o status quo de nosso momento – com isso, surge o receio e a dúvida. Recebemos a mudança com desgosto, desagrado ou mesmo fúria e impaciência. Mudar nos assusta. Como lidar com isso, então?

É importante perceber que mudar nada mais é que movimentar-se: sair do lugar que estamos e ir para outro. O planeta está em constante movimento e se não nos alinharmos a isso, o movimento deste nos assalta, nos surpreende. Assim, é importante encontrar os próprios passos de mudança – “descobrir sua órbita” é uma forma de aceitar a mudança como algo não somente necessário, mas benéfico, que nos motiva a descobrir/despertar/reconhecer o tempo/lugar/pessoas em que estamos ou nos tornamos.

Como artistas, mudança e adaptação são constantes. O tempo todo o artista está revendo suas ideias, repensando sua própria existência para praticar uma arte nova, para “caminhar” em sua produção. O artista inconstante procura novas ferramentas, testa novas técnicas, redescobre habilidades, experimenta e prova. O artista planejador prevê os passos, estuda as possibilidades, avalia o mercado, traça planos e adapta a si próprio ou mesmo o ambiente a seu redor para tornar seu processo de mudança seguro e agradável. Isso sem falar na mudança de estilo, traço, identidade que ocorre na arte quando os artistas avançam em suas idades e aprendizados.

Mudar é intrínseco ao que somos. Faz parte de nós enquanto seres vivos. É impossível controlar ou parar isso, mas é sempre há a possibilidade de embarcar nessa jornada com o prazer de um eterno estudante, entendendo cada mudança como um processo de aprendizado e equilibrando a si próprio e ao mundo.

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A Desconstrução do Ser Artístico

março 20, 2019


O princípio do desenho na nossa infância começa como uma espécie de reconhecimento do nosso mundo e de tudo que nos rodeia.

A medida que a gente vai crescendo, começamos a aprender todas as noções críticas que o mundo ao redor impõe. Com com elas, somos podados e moldados para uma cobrança a respeito do que é tido como “desenhar bem”. Gera-se uma necessidade de fazer algo que se assimila mais ao real, que tem relevância atribuída à ordem da mimese.

Eu sinto que depois de certo ponto da vida sempre tentando retratar tudo com fidelidade nos desenhos, minha produção acabou caindo pra certos vícios. Alguns padrões eram fortemente mantidos na grande maioria dos meus trabalhos, padrões que mais me limitavam do que motivavam, o que acabou me desestimulando e gerando fases longas de bloqueio criativo.

Foi a partir desse ponto que eu precisei achar um meio de explorar possibilidades que até então eu evitava ao extremo, por acreditar que “não combinava com o que eu fazia”. Foi um processo de desconstrução do que eu produzia até então, e a partir daí eu comecei a procurar cada vez mais pelos extremos opostos. O que eu fazia era tentar entender artistas que produziam trabalhos lindos, mas que eram completamente diferentes do que eu costumava fazer. Experimentavam cores, anatomias e composições que eu achava exageradas ou ousadas demais pro que eu costumava fazer, mas que ficavam extremamente interessantes nos trabalhos deles. Acho que dentro dessa exploração, ao sair da zona de vícios, eu acabei encontrando uma forma de agregar mais pluralidade ao meu traço.

Eu não fiz uma transição completa, até porque a gente sempre vai estar em transição. Entretanto, entendendo esses artistas tão diferentes de mim, eu consegui agregar detalhes, composições e ideias que, unidas a bagagem que eu já havia criado, puderam imprimir uma identidade no traço que ainda parecia comigo, mas diferente de tudo que eu já tinha feito.

Eu percebi aí a importância de aprender a se reconhecer e reinventar, e entendi que mudanças, por mais que estranhadas ao início, são necessárias para continuar evoluindo.

Texto de Camila Sombra

Publicado por Daniel Brandão

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