Qual sua história? Não a que você vai escrever ou desenhar ou pintar, mas aquela que veio antes de você. Aquela que te define, que formou a pessoa que você é. Aquela que ainda não acabou, porque ainda há vida pulsando em suas veias e incertezas o suficiente para que você passe um tempo nessa espacial esfera azul tentando descobrir as respostas ou se relacionar melhor com as perguntas.
“A busca por quem somos” é tema de muitas narrativas, fazendo com que voltemos aos nossos passados pessoais (ou Históricos) para descobrir parte de quem somos e termos uma maior clareza do caminho que podemos (ou queremos) percorrer. Para a arte, descobrir (ou voltar) ao passado é uma experiência fascinante, pois é reencontrar mestras e mestres que acertaram, erraram e experimentaram para que pudéssemos ter o que temos hoje.
Artistas que retornam à história de suas artes, costurando suas narrativas pessoais com suas produções, entrelaçando-as nas linhas das biografias daqueles que referenciam e nas produções destes, costumam viver experiências de auto-descobertas únicas, nas quais o aprendizado é levado por sentimentos de significação e encaixe no mundo.
É cruel esperar que a arte tenha como pesado objetivo definir o futuro. Isso é consequência natural de uma produção que vive o presente, respeitando seu passado, reconhecendo sua história, aprendendo com sua própria crônica e na reconstrução de sua memória.
E você, artista, em que lugar do passado está seu presente?
É muito comum se falar na liberdade da arte, de que esta não deve ser contida, diminuída ou censurada. Realmente, a arte, enquanto expressão do ser, precisa de amplitude para existir – por essa lógica, então, aos artistas, como veículos humanos dessa linguagem, toda a liberdade. No entanto, acreditamos que é preciso entender que tal liberdade não deve ser isenta de responsabilidades.
A arte é, antes de tudo, uma comunicação: o artista transmite uma ideia, a qual será reinterpretada por aqueles que a recebem. Uma das definidoras qualidades da arte é que tal mensagem pode gerar inúmeras interpretações, podendo ser alterada e ressignificada através do tempo, local, cultura, indivíduo ou da soma de todas essas características. Por isso que achamos importante sempre considerar como sua arte pode ser recebida: ela ofende/inferioriza/invisibiliza alguém, grupo, etnia, gênero, classe? Ela reforça/multiplica/justifica ações/conceitos de cunho violento/opressor/preconceituoso? Entre outras questões.
É importante que a arte traga questionamentos, mas é preciso reconhecer quando ela é questionável. Apresentar ideias que estimulem o debate da realidade vigente é uma das mais nobres e tradicionais funções da arte, mas utilizar a mesma para reforçar argumentos historicamente reconhecidos como opressores, justificando, através de sua liberdade de expressão, a impossibilidade de debate e forçando a uma aceitação incontestável parecem contradizer, inclusive, a natureza libertária do fazer artístico.
Por mais que uma vez publicada a obra esteja nas mãos de seus consumidores para formar novos significados, todo produtor deveria tomar responsabilidade no enunciado lançado, acrescentando sua própria voz ao debate iniciado por seu trabalho, bem como reconhecendo que algo dito em um determinado ponto de sua carreira pode ser revisto por ele mesmo em um outro, levando-o a reconhecer aquelas expressões como um passo de sua pessoal jornada de maturidade como artista e como ser humano.
Não é de nenhum interesse que nós, produtores de arte, sejamos silenciados. Mas igualmente não deveríamos querer que nossas obras sejam canalizadores de discursos de ódio – pelo contrário, esperamos que tudo o que produzimos possa levar ao debate pacífico e saudável, reconhecendo quando falhamos em nossos ofícios, mas estando sempre abertos a aprender com contestações, críticas e elogios.
Toda vida à arte!
Artista, designer, e editora de arte da revista The New Yorker, Françoise Mouly é uma das mais importantes figuras do mercado editorial e uma das mais representativas vozes (junto com seu marido, Art Spielgeman) que ajudaram a elevar as histórias e os artistas de quadrinhos para o local de importância em que estão hoje em nossa cultura. Nessa sua curta fala para o evento TED: Talks, a profissional aborda a importância da expressão artística como catalisadora das mudanças sociais e como contestadoras da realidade usando as capas da The New Yorker como exemplo. O vídeo está em inglês, mas as legendas em português podem ser ativadas. Confiram!
Estúdio Daniel Brandão
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