A Espiritualidade da Arte

setembro 18, 2019


Quando Jesus decidiu ensinar aos gentios sobre como eles poderiam viver e praticar o “amor”, ele se utilizou da arte da narrativa, e marcou a história da humanidade com suas lindas parábolas.

Aos gregos, a arte dramática servia mais do que entretenimento, era através de seus teatros que as regras sociais eram mostradas, os ensinamentos às gentes disseminados e as vozes dos deuses ouvidas.

Ora, não é na arte cantada que tantas crenças comungam com suas entidades espirituais? Não é na arte esculpida que os símbolos dividem lugar com velas, incensos e orações? Não são as artes dançadas e fantasias dos festivais em que nos misturamos nos mundos do além-vida ou no salão de nossas deusas e deuses? Não foi através da arte caligráfica que os orientais meditaram e reinterpretaram os espíritos de seus antepassados, suas histórias, e aquilo que clamavam como chamados de suas almas?

Expressar-se pela Arte é, de certa forma, ver através do véu do sobrenatural: é visitar o “mundo das ideias” de Platão, conhecer o mundo invisível das entidades onipresentes ou os conceitos em estado “bruto”, porque a Arte nos eleva motivada por uma vontade quase instintiva, enriquece nossos espíritos, aproxima nossos iguais, compartilha – de forma simples e complexas – nossas opiniões, experiências, credos, vidas.

De maneira ousada, a Arte (em sua diversidade) é o caminho natural (e meditativo) ao espiritual, ao cósmico, é nosso ato ecumênico com o “todo”, mas, principalmente, com os deuses e universos que habitam dentro de nós.

Texto de Luís Carlos Sousa

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

A Grandiosidade das Coisas Simples

julho 03, 2019


Quando eu ensinava roteiro de histórias em quadrinhos no Estúdio Daniel Brandão – há uns 3 anos mais ou menos – semestralmente apareciam alunos empolgados por HQs de grande alcance midiático e autores e obras laureadas por críticos, como Watchmen, O Cavaleiro das Trevas ou Sandman. As pretensões desses alunos costumavam não ser pequenas: eles queriam ser os autores de imortalizadas megassagas em que passado presente e futuro são uma coisa só, em que a sociedade e a individualidade do ser humano são desconstruídos, em que a narrativa do elemento “página” é reprogramada para alcançar patamares nunca antes pensados, levando a mídia a pontos inesperados… entre outros tantos desejos reais de qualquer jovem autor fortemente envolvido com HQs e que tem descoberto o oceano de possibilidades da linguagem.

Na contramão de tudo isso, no entanto, um dos primeiros conselhos que eu dava a esses alunos é: pense na pessoa mais simples da sua vida, agora conte sua história de forma que essa pessoa entenda e se emocione – lição que aprendi com Daniel e que sentia que fazia parte da filosofia do Estúdio. Mas, falar algo assim para um jovem autor com sonhos de genialidades soa como uma morte da criatividade ou uma censura da originalidade. Parece ordinário demais contar histórias de pessoas ordinárias? Acredito que não, além de ser um importante passo para qualquer um que deseje trabalhar contando histórias.

Os fãs das grandes sagas de fantasia ou das grandiosas óperas espaciais por vezes esquecem o que é mais importante dentro desses universos extraordinários: o elemento humano. Maior que as tramas políticas entre Império e Rebeldes é a história do traumatizado menino que se torna o assustador (e popular) vilão Darth Vader da série Star Wars. Não foram as grandes guerras banhadas em efeitos especiais que emocionaram os espectadores de O Senhor dos Anéis, mas o fato do maior dos reis daquele mundo ter se ajoelhado em frente ao pequenino herói de seu povo, Frodo, reconhecendo a grandiosidade de sua coragem e humildade de seu espírito, enquanto tudo o que este queria era voltar para casa.

A inspiração das grandes histórias podem estar em outras, mas acredito que a real matéria-prima para um narrador são aqueles que estão à altura de seu olhar: familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, transeuntes etc. Gente de sentimentos e sensações verdadeiras, cuja forma de ser comunica-se com outros seres humanos, revelando, através das metáforas das histórias, seus medos, angústias, alegrias, desejos e sensações.

Com isso não quero dizer que as grandes, experimentais e maravilhosas megassagas devem ser deixadas de lado. Pelo contrário. Como fã e produtor, reconheço a importância de brincar com o incomum, o inalcançável ou o impossível. Quanto mais nos afastamos de nossa realidade palpável e dura, mais teremos liberdade em lidar com questões gerais, pertinentes ao maior número de pessoas possíveis. Fora o simples fato de ser divertido lidar com os mitos aparentemente inexistentes.

No entanto, tenho em mente que as histórias mais intimistas são as que melhor ressoam nos leitores, pois de alguma maneira falam de forma direta a seus corações, dando a eles uma voz que a falta de palavras às vezes eclipsa e faz com que eles voltem seus olhares a si mesmos… sendo essa uma importante função das histórias.

Texto de Luís Carlos Sousa.

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

Tecnologia, Conectividade e Arte

maio 08, 2019


Há um tempo a humanidade tem buscado e vivido a conectividade: uma forma interessante de ultrapassar barreiras e manter todos ligados, o tempo todo e em qualquer lugar. Longe de ser uma ideia ruim, seu fascínio – ou dos objetos que permitem que tal coisa ocorra – muitas vezes pode ser mais importante do que seu real fim: construir um vínculo com alguém ou descobrir uma visão mais ampla do mundo e a real significância de nós, seres humanos, nele. Assim, seguindo essa lógica, cria-se um efeito contrário ao esperado: ao invés das pessoas estarem mais próximas, estão fisicamente mais distantes, conectadas umas às outras por suas máquinas, mas desconectadas de suas relações mais íntimas. Assim o mundo acaba se tornando pequeno demais para ser alcançado, mas deveras grande para ser assimilado ou sentido.

Nesse ínterim, a simplicidade do trabalho artístico – no agradável carinho no apego ao produzir – nos leva a repensar essa situação, a encontrar, na importância das pequenas coisas, aquilo que nos torna parte do infinito universo: nos relembrar de nossa conectividade, reatar os que estão à nossa volta, relembrando das comunicações humanas físicas, presentes, imediatas.

Há um fascinante e importante trâmite em fazer arte: a capacidade de se viver (ou de viver e ver) além de nossos próprios olhos, fora das zonas seguras que estabelecemos, e estar junto de outros, atravessando experiências que nos edificam – indo além das telas de “conectividade” e encontrando aquilo que está diante de nossos olhos e ao contato de nossas mãos. A arte, afinal, é essa magnífica representação do real através do acurado olhar do artista.

Depois que eu me dediquei mesmo ao que eu amo, eu entendi que arte não tem nada de egoísmo, arte é compartilhamento, é felicidade espalhada. Todo dia eu recebo não sei quantas mensagens de pessoas dizendo que amam o que eu faço, que se sentem inspiradas. Isso é muito mágico. Essa é a minha maior motivação. E de qualquer forma, a vida é curta, e temos que fazer o que gostamos mesmo”. – Natália Matos, quadrinista e artista plástica.

Se é assim tão curta como diz Natália, então é preciso construir o tempo de compartilhar nossos sonhos uns com os outros lado a lado, além da conectividade do progresso, mas na eterna conectividade do abraço gerado pelas linhas, formas, cores e animações da arte.

Texto de Luís Carlos Sousa

Publicado por Daniel Brandão

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Sobre Artes e Filhos

março 06, 2019


Muitas vezes, alguns autores – não raro, jovens – falam de suas obras como “filhos”, assumindo uma orgulhosa “paternidade” e, com isso, marcando (também) seus direitos “de posse” sobre suas criações. Parece estimulante pensar dessa forma (ou equivocado se principalmente nos concentrarmos no último tópico), mas é preciso ter cuidado ao assumir esse tipo de postura.

Filhos reais são humanos, possuem suas individualidades e sua própria história, apesar de boa parte daquilo que eles são – ou se tornam – vêm da influência de seus genitores e/ou responsáveis. A pretensão (idealizada ou não) ao ajudar no desenvolvimento de uma criança desde sua tenra idade é dar suporte para que esta desempenhe sua própria autonomia, encontre e/ou desenvolva seus próprios valores e avance para o futuro, moldando seu tempo como figura ativa dele.

Uma obra de arte, no entanto, funciona mais como um reflexo do tempo e dos pensamentos do autor, mantendo-se imutável durante todas as vezes em que é resgatada – sendo, por sua vez, reinterpretada ou “evocada” por cada nova geração -, do que como elemento autônomo, de vida própria, ou seja, é um recorte temporal sob o ponto de vista de uma única pessoa, podendo, conforme seus temas e qualidade de feitura, ter uma vida longa, às beiras da imortalidade humana.

Assim, por mais emotivo que seja chamar uma obra sua de “filho” é importante entender que a percepção de ambos é extremamente diferente, pois é necessário se reconhecer (mais cedo ou mais tarde) a liberdade e autonomia dos filhos, enquanto às obras é preciso sempre reconhecer a responsabilidade de sua produção, vendo o produto da arte como um reflexo (ao menos temporal) do autor e, por isso, sempre vinculado a este.

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

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