A trajetória de Fernando Lima se confunde com os últimos 30 anos da história dos quadrinhos cearenses. Participante da primeira turma da Oficina de Quadrinhos da UFC este quadrinista formado em jornalismo testemunhou e vivenciou momentos históricos da arte sequencial local, tais como as revistas PIUM e Carbono 14, o álbum Moreira Campos em Quadrinhos, o portal de webcomics Armagem Herética, dentre outros.
Como jornalista, Fernando escreveu inúmeras matérias, resenhas e colunas sobre quadrinhos. Na graduação, ele dedicou seu trabalho de conclusão de curso à história da Oficina de Quadrinhos da UFC e de lá para cá foi testemunha ocular dos fatos e transformações do mercado local da nona arte.
Como um artista completo e prolífico que é, Fernando produziu muitas histórias em quadrinhos e criou diversos personagens, com destaque para Fantasma Escarlate. Seu profissionalismo exemplar rompeu fronteiras e levou o seu nome para os créditos de diversas publicações Brasil afora.
Vamos conversar sobre a rica trajetória deste grande artista. Além de conhecer quadrinhos como poucos, Fernando é escritor, designer, professor e muito franco com as palavras.
Vamos começar do início. Como os quadrinhos entraram na sua vida?
Sempre gostei de ler. Não só quadrinhos, mas, praticamente qualquer coisa que colocassem na minha frente. Na tenra infância, porém, quando ainda não conseguia decifrar o mistério das letras, obviamente, as imagens eram o que mais me atraia.
Eu tenho, pelo menos, dois tios que gostam muito de quadrinhos e provavelmente um deles deve ter deixado em algum lugar da casa uma daquelas pérolas coloridas e cheias de desenho que logo capturaram minha atenção, daí em diante as revistas em quadrinhos viraram companheiras constantes.
Logo eu não me contentava mais em apenas ler os quadrinhos, veio a vontade de criar meu próprio material e contar as minhas histórias.
O que mais te influenciou artisticamente neste seu início?
Essa pergunta é difícil, por que, naquela época, eu não tinha controle sobre o material que chegava até mim. Os adultos compravam as revistas e eu devorava tudo o que era colocado no meu prato. Uma semana eram quadrinhos da Disney, na outra uma edição de super-heróis da EBAL. Ganhei edições do Asterix e Valerian, antes mesmo de sonhar com as profundas diferenças que separavam este tipo de publicação, dos quadrinhos que eu via nas bancas.
Se eu for pensar cronologicamente, teria que dizer que minhas maiores influências no início foram os autores anônimos que produziam quadrinhos para a Disney e Hanna-Barbera, depois vieram Curt Swan, Steve Ditko, Jack Kirby e Jim Aparo.
Fale-nos sobre a origem da Oficina de Quadrinhos da UFC. Como você a descobriu? Você já cursava jornalismo?
Na verdade eu estava me preparando para o vestibular em 1985. Um colega de colégio que também curtia quadrinhos tinha ouvido falar desse lugar na Universidade que era aberto ao público e as pessoas iam para conversar, aprender e produzir quadrinhos.
Chegamos lá, no terceiro andar do curso de Comunicação Social da UFC, na sala de Projeto Gráfico, onde aconteciam as reuniões da Oficina e fomos recebidos pelo Prof. Geraldo Jesuíno, pela Jane Malaquias e pelo futuro “brega-star” Falcão. Mostramos os quadrinhos e rabiscos que tínhamos trazido em baixo do braço e, de cara, recebemos uma avalanche de informações sobre materiais, técnicas e apresentação.
Junto com todo o feedback veio um convite e nossa primeira “deadline”. Uma semana para produzir duas páginas de quadrinhos para serem publicadas no PIUM nº1.
Eu já tinha planos em prestar vestibular para Comunicação e o contato com a Oficina e o que aprendi sobre o processo de edição e redação fortaleceram ainda mais esse propósito. No ano seguinte eu já estava oficialmente matriculado na UFC e logo me tornei monitor e bolsista da Oficina de Quadrinhos, sob a tutela do grande Prof. Geraldo Jesuíno.
Na sua avaliação, qual a importância da Oficina para sua vida e para o mercado de quadrinhos cearenses?
Simplesmente eu não creio que haveria praticamente nada do que existe hoje se não fosse a Oficina. Todas as pessoas que conheço e que trabalham com quadrinhos hoje em dia na cidade, ou foram alunos da Oficina (em uma encarnação ou outra), ou foram alunos de alguém que passou pela Oficina. Sem falar que projetos como a Gibiteca de Fortaleza e a Monstra são crias diretas de “Oficineiros”.
E mesmo se alguém disser que nunca teve contato, nem sequer indireto, com a Oficina, foi a brasa inicial desse incrível projeto que acendeu a chama criativa que vem, até hoje, aquecendo o ambiente de produção de quadrinhos na cidade.
Você poderia falar um pouco sobre as turmas da Oficina das quais você fez parte ou deu aulas?
No início a oficina era menos sobre turmas e aulas e mais sobre troca de experiências. Havia um grupo inicial formado de estudantes de direito, arquitetura, letras e comunicação.
Uma figura marcante é o (hoje) famoso apresentador, cantor e bregastar Marcondes Falcão, que na época era apenas um estudante de arquitetura. Ele já chamava a atenção na época pelo seu humor típico e seus quase dois metros de altura. Falcão foi um dos que não seguiram carreira nos quadrinhos, mas não foi o único.
Jane Malaquias certamente aproveitou sua experiência nos quadrinhos para o desenvolvimento de storyboards para seus filmes. Ela foi estudar cinema em Cuba e hoje é uma fotógrafa, diretora e roteirista cinematográfica. Outra figura ilustre é o Jornalista e escritor Flávio Paiva que é um elemento de grande relevância no cenário cultural do estado.
O Weaver chegou novinho na Oficina, hoje é um artista plástico reconhecido, mas ainda se percebe uma grande influência dos quadrinhos no trabalho dele.
O Paulo César Amoreira, que entrou comigo na oficina de quadrinhos, hoje é um criador transmídia. Ele é Designer, Ilustrador, Fotógrafo, Videomaker, Dramaturgo, Artista de Arte Interativa e Gestor de Projetos Criativos. Mas o quadrinho está tão na alma que quando trabalhava como gestor público conseguiu criar a primeira gibiteca do estado do Ceará, A Gibiteca Luiz Sá, instalada dentro da Biblioteca Dolor Barreira.
Alguns dos participantes resolveram transformar o quadrinho em ganha-pão. É o caso do meu amigo JJ Marreiro e obviamente você, Daniel Brandão, que também teve sua passagem pela Oficina. E na minha opinião foram vocês e o Geraldo Borges, os grandes responsáveis por carregarem a tocha da oficina adiante. O Graph It Studio que vocês fundaram segurou a ideia da Oficina como um espaço de aprendizado e troca de informações, durante boa parte do tempo em que o projeto da Oficina ficou em hiato. Dessa forma eu considero que o Geraldo, mesmo não tendo feito parte da Oficina, é um herdeiro espiritual do legado desse projeto.
Da oficina saíram ainda juízes, procuradores, poetas e um número de outros profissionais que, se não mantiveram o quadrinho como carreira, pelo menos levaram para a vida os momentos de camaradagem e exercício criativo.
A principal publicação da Oficina de Quadrinhos chamava-se PIUM. Como ela foi criada e qual a sua relevância história?
Primeiro vamos falar do nome. Pium é um mosquito que tem no interior do Ceará. Ele é bem pequeno, mas incomoda muito e essa era a ideia da publicação. Algo pequeno no tamanho, mas que causasse algum rebuliço.
Assim o Pium era um grande laboratório onde podíamos fazer experiências com os diversos elementos que compõem uma HQ. Produzido em off-set, ele também servia para nos ensinar como nossos trabalhos se comportavam ao ser impressos em um sistema profissional.
O Pium foi uma grande escola de produção e, mesmo não tendo uma periodicidade regular, eu não sei de outra publicação de quadrinhos local que tenha, historicamente, ultrapassado a marca dos 15 exemplares.
Houve uma tentativa ousada de se criar uma revista de banca chamada Carbono 14. Como foi esta experiência?
O termo Oficina vem da ideia de aprender fazendo. Não era só um curso, era uma forma de experimentar o “processo do quadrinho”. Parte desse processo era tentar compreender o mercado em que estávamos tentando nos inserir. A primeira tentativa da Oficina de capitalizar os quadrinhos surgiu com a criação da “Agência Pacatatu”, que levou tirinhas dos membros da Oficina para jornais locais de forma remunerada. Funcionou durante algum tempo, até que os jornais mudaram seus cadernos e sua política de publicação.
Então, alguns anos depois surgiu a pergunta — “Por que não colocamos uma revista em banca?”
Em vez de simplesmente responder com a lista das dificuldades e limitações que (até hoje) existem para executar algo desse porte, o Prof. Jesuíno fez com que tentássemos. A revista foi produzida. A revista tinha capa colorida, formato grande e fomos a campo. Na época não tínhamos revistarias ou comic shops. Era nas bancas que você encontrava os quadrinhos e foi para bancas no centro da cidade que nos encaminhamos para oferecer nosso material. Deixamos cerca de 10 revistas em umas quinze bancas do centro de Fortaleza, para serem vendidas em consignação, quer dizer, se o jornaleiro conseguisse vender ele nos repassaria nossa parte do valor da venda, se não, levaríamos de volta as revistas “encalhadas”.
Sem marketing, sem destaque nas prateleiras e sem muito interesse por parte dos vendedores a saída da revista foi pífia. Em algumas bancas levamos de volta os dez exemplares, que estavam lá escondidos em uma prateleira do fundo. Em uma das bancas chegamos até a vender cinco das dez revistas, mas foi um caso isolado. A média era de apenas dois exemplares vendidos por banca.
Mesmo assim chegamos na número dois e só não insistimos com a três por limitações técnicas, mas a revista chegou a ser planejada e algumas das HQs produzidas.
O experimento nos ensinou sobre dois grandes empecilhos que, de certa forma, existem até hoje no mercado de quadrinhos — marketing e distribuição. Empecilhos esses que finalmente estão encontrando uma solução parcial com o surgimento das redes sociais.
Você participou do histórico (e raro) álbum Moreira Campos em Quadrinhos. Como foi participar desse projeto?
Para ser bem sincero, eu fui praticamente obrigado a participar do álbum. Não era o tipo de conteúdo que eu estava interessado em produzir e o único conto que me interessou já tinha sido “tomado”. Acabei cedendo e aproveitei para realizar um trabalho bem experimental, usando a limitada tecnologia que havia na época. O resultado final ficou aquém do que eu esperava, às vezes acho que podia ter valido a pena ser um pouco mais conservador na produção da HQ, mas tem gente que gostou do resultado final.
Por outro lado acabei me envolvendo em diversos outros aspectos da produção do álbum. E foi muito interessante acompanhar o processo criativo dos outros autores. Ainda tenho algumas fotos de referência que tiramos para a HQ produzida pelo Paulo Amoreira e lembro bem da maquete de uma cidade do interior, que o Silas Rodrigues e o Jesuíno construíram sobre uma mesa, no centro da sala da Oficina, para servir de referência na HQ “O Prisioneiro”.
No final foi uma grande experiência e me ajudou a expandir um pouco mais meus conceitos e rever algumas ideias que acabavam por limitar meu trabalho.
Fale sobre sua atuação como jornalista. Você escreveu muito sobre quadrinhos?
A oportunidade surgiu de uma forma bem inesperada. No final dos anos 1980 as bancas estavam sendo inundadas por “graphic novels”. As editoras Abril e Globo estavam empurrando título atrás de título, tentando abastecer um mercado ávido por novidades e por quadrinhos “adultos”. As aspas entram aqui, porque, tirando algumas publicações européias e uma ou outra série que abordava temas mais maduros ou jornadas intimistas, o que realmente estava sendo entregue eram os mesmos quadrinhos de super-heróis de sempre, mas com uma roupagem mais elaborada, uma arte mais rebuscada e impresso em papel de melhor qualidade num tamanho maior. E, sinceramente, para mim estava muito bom (risos).
De qualquer forma essa explosão dos quadrinhos — desculpe — graphic novels, chamou a atenção dos meios jornalísticos. Não havia a internet como conhecemos hoje. As informações vinham muito mais devagar e os jornais ainda eram uma boa fonte de informação confiável e precisavam de um modo de chamar atenção de um público mais jovem, assim alguns jornais do sudeste começaram a publicar artigos fixos sobre o assunto.
Eu ainda estava na Universidade e era chegada a hora de estagiar em uma redação. Consegui um espaço no Jornal O Povo e a editora do caderno de variedades ficou sabendo que eu entendia bastante de quadrinhos e me convidou a escrever um artigo para o Jornal. Duas semanas depois eu tinha uma página inteira no referido caderno, que eu dividia entre duas paixões; HQs e vídeo-games.
Em pouco tempo a coluna começou a se posicionar como referência, não só local, e toda semana eu recebia uma boa quantidade de publicações de editoras de todo o país para ler, selecionar e fazer resenhas. Isso continuou por mais alguns anos até que o mercado começou a arrefecer.
Não havia mais tantas publicações de luxo e os lançamentos se tornaram escassos. Para mim, não fazia sentido cobrir o andamento de revistas de linha ou ficar me concentrando nos quadrinhos que eram publicados apenas fora do país, então conversei com o editor da época e resolvi me afastar. Eles tentaram manter a coluna, creio que ainda foram publicadas três ou quatro artigos, mas, como eu havia apontado, fica difícil noticiar algo se não há notícias e, por pura falta de material, a coluna acabou sendo extinta.
Na segunda metade dos anos 90 você se afastou da Oficina e, de certa forma, dos quadrinhos. O que te levou a isso? Como você avalia esta década?
Realmente não sei. Acho que me distraí. Acontece às vezes. Eu começo a fazer alguma coisa e quando vou ver já se passou uma década ou duas (risos). Mas, na verdade, nunca parei de desenhar ou escrever, apenas não havia nada que eu estivesse, realmente, interessado em publicar.
Para piorar um pouco essa situação, depois de tanto analisar quadrinhos, minha autocrítica estava demasiado apurada. Eu queria evitar, nas minhas histórias, algumas coisas que eu criticava nas HQs alheias. Furos de roteiros, mecanismos ultrapassados e fórmulas prontas.
Eu desenvolvia o roteiro, ele ia avançando bem, a história se desenrolava com naturalidade e, de repente, eu percebia que eu não tinha um bom final para a história e também não queria, simplesmente, quebrar a coerência interna da narrativa para forçar uma conclusão interessante.
O que te motivou a voltar a produzir?
Foi uma convergência de fatores.
Quanto ao bloqueio de roteiro eu percebi que, se as fórmulas existem e resistem há tanto tempo, é porque elas têm seu valor dentro de uma narrativa. Compreendi que algumas vezes, um furo no roteiro não é apenas um furo; é a única saída possível para uma situação impossível e que, se nem a realidade é totalmente coerente, eu também não sou obrigado a ser. Em outras palavras — Regras existem para ser quebradas e ninguém é obrigado a ser genial o tempo todo.
Em conversa com o prof. Jesuíno surgiu a ideia de aproveitar o potencial da internet para incentivarmos a nós mesmos e a mais alguns amigos em continuar produzindo quadrinhos. Resolvemos criar um site para hospedar as HQs online. Conversamos com mais alguns antigos membros da oficina. Fiz o design e a codificação do site, então, fizemos uma “vaquinha”, compramos domínio, hospedagem e batizamos o site em homenagem a uma história curta do Silas Rodrigues, que por sua vez era uma homenagem à Garagem Hermética do Moebius. Assim surgiu a Armagem Herética, ou simplesmente armagem.com, como acabou ficando conhecido.
Você é uma das pessoas mais atualizadas com tecnologia que conheço. Quando você se deu conta do potencial da internet?
Em 1995 eu já estava trabalhando com um provedor de internet, ainda na época da conexão discada. As imagens carregavam devagar e quase tudo era na base do texto. Mas a tecnologia estava alí e se desenvolvendo rápido.
No início dos anos 2000, com a popularização do Macromedia Flash, um programa que possibilitava o uso de gráficos leves em animações e outras aplicações online eu percebi que tínhamos uma ferramenta poderosa em mãos.
Comecei a experimentar em alguns sites de hospedagem gratuita e a publicar, na rede, ilustrações e histórias e fui adaptando meu trabalho na medida em que a tecnologia foi avançando e ainda estou nisso até hoje, nunca parei.
Mas confesso que essa minha afinidade por tecnologia, por vezes é um teste de paciência. Eu vejo para onde a tecnologia está indo e vejo coisas que me interessam bastante sendo desenvolvidas, mas acaba demorando dois ou três anos até que cheguem ao mercado e mais uns dois ou mais anos até que o preço se torne minimamente acessível. Dessa forma, entre a ideia do que eu poderia fazer com determinado produto ou programa e o momento em que eu posso finalmente trabalhar em cima disso lá se foi mais uma década.
Dentre os seus personagens, o Fantasma Escarlate se destacou. Fale sobre sua criação mais famosa.
Foi um acidente. Um feliz acidente com uma bela anedota para ser contada em eventos, palestras e workshops sobre criação de personagens.
Eu havia sido chamado para a festa de aniversário de uma querida amiga, a @lyladellatorre, era uma festa a fantasia. A partir de um agasalho com capuz, que encontrei em um brechó no centro da cidade, resolvi criar um uniforme de super herói para ir a festa.
O visual ficou tão interessante que alguns amigos me cobraram o desenvolvimento daquele personagem, assim, algumas semanas depois, comecei o trabalho de composição, assim, usando a estrutura dos desenhos animados da Hanna-Barbera dos anos 1960, adicionando um pouco dos conceitos das animações da DIC e da Filmation na década de 1980 e mais uma pitada de elementos dos Tokusatsu — os seriados de heróis japoneses — criei a base do que seria o universo do Fantasma Escarlate.
Depois de misturar bem, deixei descansar por umas semanas para amadurecer e comecei a fazer a primeira HQ com o herói que foi publicada no site da Armagem.com e acabou fazendo bem mais sucesso do que eu esperava.
Uma curiosidade do seu trabalho é que diversas histórias têm como cenário a cidade de Fortaleza ou o estado do Ceará. Por que isso? Como a sua relação com o ambiente que você vive influencia a sua arte?
Para mim parece bem natural. Nos seriados e filmes japoneses os monstros e alienígenas sempre atacam Tókio. Nas produções americanas o alvo é Nova York ou Washington. O Stephen King desenvolve suas tramas no estado do Maine, onde ele vive.
O mais natural é você localizar suas histórias em um ambiente familiar, afinal é mais fácil escrever sobre aquilo que você conhece. Muitas vezes optamos por criar cidades fictícias para tornar a trama mais “universal”, mas achei que seria divertido fazer as aventuras se passarem em Fortaleza, mesmo que seja uma Fortaleza que alterna cenários reconhecíveis com outros ambientes completamente ficcionais.
Quanto à influência do ambiente: não tem jeito, o lugar em que você vive é o centro do seu mundo. É o que você percebe. É o que você vive. Isso acaba influenciando seu trabalho sim, muitas vezes de forma sutil, mas está sempre presente.
Como você avalia a sua carreira? Quais foram os pontos mais marcantes?
Avaliar minha carreira? Não sei se saberia fazer isso. Não penso muito a respeito, mas acho que é um caminho e tem sido um caminho, geralmente, divertido de percorrer.
Já me disseram que sou parte da história das HQs no Ceará e, sim, participei de grandes momentos dessa jornada. O início da Oficina de quadrinho da UFC, a criação da Gibiteca Luiz Sá, a formação do Fórum de Quadrinhos do Ceará, as comemorações sempre inspiradoras do Dia do Quadrinho Nacional, recentemente o Projeto HQCe, junto à Fundação Demócrito Rocha. Tudo isso, porém, são coisas efêmeras.
O que realmente conta é que conheci pessoas incríveis. Tive contato com grandes figuras do nosso meio, como Maurício de Souza, Will Eisner, Neil Gaiman. Acho, porém, que o mais marcante mesmo foram as amizades que foram firmadas, entre elas, algumas pessoas que têm que ser citadas são o meu grande mestre, Geraldo Jesuíno. Meu amigo, quase irmão, JJ Marreiro. O talentosíssimo Geraldo Borges e, é claro, você, Daniel Brandão.
Quais são seus próximos projetos?
Eu estou trabalhando na expansão do Universo do Fantasma Escarlate. Na verdade serão “spin-offs”. Novos personagens e séries que surgirão nas aventuras do Escarlate e depois ganharão séries próprias. Estou trabalhando, também, em algumas ideias para o Tião Caçuá. Esse personagem já foi publicado na “Antologia de Quadrinhos” e as histórias se passam em uma versão meio “vaporpunk” do nosso estado na virada do século dezenove, misturando aventura e fantasia e um regionalismo “criativo” (risos).
Também teremos novidades online. A Armagem.com vai passar por mudanças no segundo semestre de 2017, mas ainda estou trabalhando na parte técnica e desenrolando umas questões financeiras.
Como você enxerga o mercado de quadrinhos cearense hoje em relação aos anos 80 e 90? Qual sua projeção para o futuro desta mídia?
O mercado, se assim podemos chamar, continua pequeno. Tímido. Devo reconhecer, porém, que trabalhamos bem com o que temos e o que temos é muito talento e garra. Os criadores estão utilizando mais as ferramentas de financiamento coletivo e patronagem, que se encontram online. Os coletivos estão se organizando e produzindo material. Soube que o Weaver Lima montou um gabinete gráfico para impressões de pequenas tiragens, que pode ser uma grande sacada para os produtores independentes. As coisas estão acontecendo. Os eventos estão abrindo espaço para os artistas, mas a produção ainda é mínima.
O futuro imediato é uma evolução do que já temos. Não prevejo nenhuma mudança significativa a curto prazo. Novos autores vão surgir, mais antenados com as mídias atuais. Eu percebo que esse pessoal jovem é muito bom em consumir conteúdo eletrônico, mas não aprenderam ainda a produzir.
Os coletivos locais deveriam ter portais próprios para publicação de material online, com objetivo de formar uma base de leitores e promover melhor as campanhas de financiamento coletivo para conseguirem publicar em formato físico.
SERVIÇO
Site de Quadrinhos: www.armagem.com
Tumblr de Ilustrações: fernandolima.tumblr.com
Facebook: facebook.com/sirknightangel
Segue abaixo a minha participação como entrevistado do programa Destaque, da Faculdade FGF TV. Fiquei muito honrado com o convite e com a oportunidade. É sempre uma alegria poder falar sobre o meu trabalho.
Neste mês completei mais um ano de vida e continuo uma jornada de aprendizado e descobertas. O caminho não é fácil, mas algumas coisas tornaram a longa e tortuosa estrada da minha vida um pouco mais amena. Dentre elas, os quadrinhos.
Costumo dizer que os quadrinhos salvaram a minha vida. Enquanto, muitas vezes, o mundo real se mostrou vazio, depressivo, sinistro e perturbador, encontrei nos quadrinhos um portal de entrada para um universo paralelo perfeito e encantador. Nos quadrinhos encontrei cores e justiça. Lá, o bem vencia o mal. Lá era a minha Pasárgada.
Muito mais eficiente que um Prozac. O difícil era sair deste universo e encarar a vida. Mas, por incrível que pareça, através desta forma de arte eu consegui fazer isso com certa calma e equilíbrio. Até agora, pelo menos.
Por causa dos quadrinhos, virei um leitor assíduo. Apaixonei-me pelas palavras. Mas elas não bastavam e não conseguiam traduzir tudo. O entrelaçamento de imagens e palavram produziam em mim um encantamento maior. Desenvolvi uma necessidade de me expressar e contar histórias através desta mídia. Logo cedo eu soube o que queria fazer pelo resto da vida.
Estou construindo profissionalmente meu próprio universo paralelo há 20 anos. Já caminhei por diversas paragens e singrei florestas e desertos tendo a imaginação, o papel e o nanquim como passaportes.
Os quadrinhos continuam salvando a minha vida. Talvez como forma de retribuição, dou aulas e troco experiências com novos sonhadores. Aprendo muito a cada dia com cada aluno. Fico muito emocionado com as histórias produzidas por eles. Histórias de vida. Vidas que se tornaram mais ricas, mais amenas e com mais sentido por causa dos quadrinhos.
Depois de tanto tempo e tantas experiências, ainda não sei bem quem eu sou. Os quadrinhos me deram muitas pistas e uma certeza: sem ele eu estaria perdido.
MINI BIO E CONTATOS
Daniel Brandão
Gosto de desenhar desde que me entendo por gente. Pintei quadros com minha avó quando eu era criança e criei meus primeiros heróis e quadrinhos a partir dos 9 anos.
Quando já estava na faculdade, descobri a Oficina de Quadrinhos da UFC (Universidade Federal do Ceará) e lá eu tive uma visão do meu futuro. A partir de então decidi trabalhar com ilustração e quadrinhos.
Para isso, estudei bastante. Eu me formei em Comunicação Social pela UFC e cursei a Joe Kubert School of Cartooning and Graphic Arts, em Nova Jersei (EUA).
Desde 1996 eu trabalho como quadrinista, ilustrador, arte-educador e empresário. Já ganhei três prêmios HQ Mix pela publicação Manicomics e trabalhei com diversas editoras, revistas, personagens e empresas nacionais e internacionais, tais como DC Comics, Marvel, Dark Horse, Abril e Maurício de Sousa Produções.
Sou criador dos personagens Liz, Sebastião e Cariawara. Atualmente possuo um estúdio próprio em Fortaleza, Ceará (Estúdio Daniel Brandão) onde ofereço cursos de desenho, quadrinhos e mangá.
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