As histórias em quadrinhos são a minha forma de arte predileta. A linguagem que eu mais admiro. A mídia que mais consumo.
Os quadrinhos são uma forma de comunicação que não deve a nenhuma outra. O entrelaçamento de palavras e imagens justapostas numa narrativa geram uma linguagem própria, única e fascinante. Portanto, não há motivo algum para os quadrinhos sofrerem um complexo de inferioridade. Por isso, precisamos colocar alguns pontos nos “is”.
Não precisamos chamar os quadrinhos de ARTE SEQUENCIAL para se obter respeito. Arte sequencial é um ótimo termo cunhado pelo gênio Will Eisner e se tornou um excelente sinônimo para “quadrinhos”. Porém, se chamarmos esta forma de arte como HQ, Quadrinhos, Histórias em Quadrinhos, Banda Desenhada etc. ela não perde nenhum milímetro do seu valor.
Quadrinhos não é literatura! Não confunda. Na dúvida, pergunte o seguinte: literatura é quadrinhos? Claro que não. As duas linguagens possuem características próprias e não há nenhum tipo de hierarquia entre elas. Uma não é superior a outra. São diferentes e ambas têm um potencial ilimitado.
Quadrinhos não é gênero, é linguagem. Portanto, discordo de quem pensa que quadrinhos são um gênero literário. Assim como acho um absurdo reduzir os quadrinhos ao gênero de super-heróis ou ao gênero de humor… Todos os gêneros cabem em quadrinhos. Assim como o cinema, por exemplo, os quadrinhos podem contar histórias de todos os tipos para todos os públicos possíveis. Na linguagem dos quadrinhos, podem ter obras extraordinariamente sofisticadas, como também podem ter resultados toscos.
As Histórias em Quadrinhos não são só para crianças. São também para crianças! Existem sim os quadrinhos infantis. Mas também existem histórias em quadrinhos para jovens, adultos, velhinhos etc. Podemos atingir todos os públicos com esta linguagem.
Fico irritado, portanto, quando a qualidade dos Quadrinhos são reduzidas à função de trampolim para a literatura ou para o que as pessoas consideram leituras “clássicas”. Isso pode acontecer sim e tudo bem. Muita gente começa lendo quadrinhos e em certo momento da vida migra para livros. Nada contra. Mas reduzir o valor dos quadrinhos a isso eu não concordo. O valor dos quadrinhos está em si. Existem muitos clássicos em quadrinhos. Há muita sofisticação, cultura e conhecimento dentro desta linguagem.
Não aconselho ninguém a ler só quadrinhos. Isso seria tão ruim quanto alguém que não lê nada e só assisti filmes. Seria pouco. Bom mesmo é ler quadrinhos, livros, assistir filmes, séries, documentários etc. Consumir arte e cultura de várias linguagens. Mas sem hierarquia entre elas. Sem complexos de inferioridade.
Até quem não gosta de quadrinhos os consome. Mesmo sem saber. Esta linguagem está entranhada em nosso dia a dia. Desde a pré-história. O ser humano seria incompleto sem as HQs. Precisamos respeitá-las.